Coinfecção Secretaria Executiva da Universidade Aberta do SUS
Muitas estratégias têm sido utilizadas para aumentar o diagnóstico de tuberculose (TB) em pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA). Neste grupo, uma vez que as formas extrapulmonares de tuberculose são frequentes, a tosse, muitas vezes, não é o principal sintoma.
Para o diagnóstico de tuberculose em PVHA, recomenda-se o rastreamento (screening) baseado em sintomas (anamnese clínica), que consiste em perguntar, a cada visita do paciente ao serviço de saúde, se ele tem algum desses quatro sintomas:
Muitas vezes, o paciente não percebe a sudorese noturna e o emagrecimento. Por isto, uma boa forma de esclarecer a presença desses sintomas é perguntar se ele “precisa acordar para trocar o pijama à noite” e se ele “percebeu que as roupas estão mais largas”.
A combinação desses quatro sintomas (tosse, febre, sudorese noturna ou emagrecimento) tem sido usada em várias partes do mundo como ferramenta para o diagnóstico de tuberculose em PVHA. O desempenho dessa combinação varia de acordo com a prevalência de HIV no local e, no Brasil, este screening tem bom desempenho.
A presença de qualquer um dos quatro sintomas deve levantar a suspeita de tuberculose em PVHA e sinaliza para o desencadeamento de investigação diagnóstica mais minuciosa, com anamnese mais ampla e solicitação de exames complementares.
A radiografia de tórax, sempre que disponível, deve ser solicitada, pois aumenta a sensibilidade e a especificidade do screening baseado em sintomas e ajuda na elucidação diagnóstica.
Uma vez que as formas extrapulmonares são frequentes, os sintomas ou sinais de tuberculose em PVHA variam bastante e dependem do órgão afetado. Por isso, durante a consulta, é importante buscar outros sinais e sintomas indicativos do órgão afetado. Por exemplo, urina escura repetidas vezes pode ser um sinal de hematúria e pode indicar TB renal.
A prova tuberculínica não está recomendada para o diagnóstico da tuberculose ativa no Brasil. Uma prova tuberculínica negativa não exclui a tuberculose. PVHA com imunodeficiência grave (contagem de linfócitos T-CD4+ < 200 céls/mm3) não produzem resposta à prova tuberculínica.
Exames histopatológicos em biópsias de tecidos podem revelar granulomas frouxos, contendo bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) no seu interior. Nesses casos, a cultura do fragmento da biópsia permite uma melhor elucidação diagnóstica. É importante lembrar que a cultura para micobactéria sempre deve ser solicitada com identificação da micobactéria e teste de sensibilidade antimicrobiano, pois micobactérias não-tuberculosas (MNT) também podem causar doenças em PVHA. Além disso, vale lembrar que granulomas frouxos sem BAAR também podem ser vistos em outras doenças infecciosas e não infecciosas, como, por exemplo, histoplasmose, sarcoidose e doenças autoimunes.
Quanto ao diagnóstico bacteriológico da tuberculose em PVHA, os pacientes geralmente não produzem cavidades pulmonares e, portanto, apresentam baixa carga bacilar. Por isso, as amostras de escarro sempre devem ser encaminhadas para baciloscopias, cultura com identificação de espécie de micobactéria e teste de sensibilidade aos antimicrobianos. Baciloscopias ou cultura positivas indicam a necessidade de início imediato do tratamento para tuberculose.
Outro exame importante é o teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB), uma tecnologia diagnóstica recém-implantada na rede SUS. O teste apresenta maiores sensibilidade e especificidade do que a baciloscopia, diagnosticando mais facilmente os casos com baixa carga bacilar. O TRM-TB identifica, ao mesmo tempo, o genoma do M. tuberculosis e a resistência à rifampicina. Abaixo estão ilustrados os algoritmos diagnósticos para o TRM-TB.
Para saber sobre o tratamento da tuberculose em pessoas vivendo com HIV/aids, clique aqui.
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